sábado, 3 de maio de 2014

Amasya


We took the train to Amasya from Sivas. Its a slow ride, 5 hours for a less than 300km trip.
The line goes on another 100km to Samsun on the Black Sea coast.Trains are a state enterprise in Turkey but are comfortable and if you have the time enjoyable often carrying a restaurant car.
There had been a light frost in Sivas but the fields were full of women in the late autumn sunshine pulling up the last of the beets, tending vegetables or in groups around their samovar of tea.



 As we approached Amasya the scenery became more dramatic, we began to accompany the Yesilmak (Green) river,  the valleys and gorges were steeper with romantic cliff faces, pines and small bridges across the river. Then we had arrived-- a small Ottoman style railway station, 10 minutes from the centre of Amasya. A taxi from the station passed quickly through a modern suburb and into a valley beside the river. We crossed one of the four bridges of the city and above us soared the limestone cliff, sheer with its Pontiac tombs and castle perched high up. The railway line follows the river below the cliff, disappearing into a tunnel and in the space of 60 or 70 metres between the line and the river is a warren of Ottoman houses, many now converted into hotels.

The slow running Yesilmak river.

Amasya



The view from our hotel window.

We took a large room on the other, cheaper side of the river. It had a magnificent view of the rock tombs which seemed like a dream on waking every morning. The hotel elevator stopped on alternate floors and not on ours. This turned out to be dangerous because the hall lights worked on a delayed timer. Ane plummeted down a flight of stairs on the first afternoon and punched a large hole in the plaster wall. She was miraculously unhurt which was probably a good omen for the rest of our stay in the town.
Amasya like so many towns in Turkey has history. Hittites, Phrygians and Persians made it their own before Alexander´s conquest. The Romans followed and from the 2nd Century BC Amasya was´ first city in Pontus`. 700 years of byzantine christendom suceeded and from the 14th Century, Islamic rule. It was prominent under the Ottomans as a centre for Islamic education with its mosques and medreses and future sultans spent their early years here bearing the title of governor. Bronze heads of many of these adorn the promenade along the river.        
                                                                     
                                                                  


Oud maker´s workshop.
Looking at an old photograph of the town probably from the 19th Century not much else inhabited this bank. Today it is a thriving commercial area which preserves the individuality of small artisan shops alongside larger businesses. It has a liberal feel for Eastern Turkey, tourism has opened up its secrets without destroying its charm.So much thebetter, for this whole region of Pontus which extends along the Black sea coast as far inland as Amasya was once very mixed ethnically. The villages of the Amasya countryside were hetrogeneous with Armenian and Greek Christian among them. These disappeared after 1915, the Armenians were deported with Greeks hanging on until 1922.  Amasya city was probably always solidly islamic with its cherished historical mosques built under the patronage of various Sultans.

byzantine crosses and seals from the Amasya museum


Praying time at the mosque

Tourism is the major income earner but it came as quite a surprise when the regional Minister for Tourism introduced himslf to us on the street and wished us a happy visit.  We were to ring his office should we need anything. Small commerce and artisans are the lifeblood of towns and walking the backstreets of Amasya is as pleasant as it gets. Jewellry, old watches and beaten metal objects seemed to dominate here. We bought a small hand made sugar dish and cube sugar cutters from Mr Buhan who invited us to see some of his little treasures and  drink some tea.


Amasya has other sources of income. Its marble is exported all over the world and so are its apples.The climate of the city is softened by its proximity to the sea. Higher rainfall allows the growing of a crunchy apple full of flavour, not gala apples a vendor corrected me, $15 a box.

A beautiful wall in Amasya, japanese in its harmony

And of course the castle and rock tombs are worth the trek though we didn´t get to the first. The rock tombs are a vertiginous steep climb up the side of the mountain overlooking the town. Ane managed it but unceremoniously came down on her backside, the sliding method....there is no rail and just centimetres away is a precipitous fall of more than a hundred metres, not for faint hearts. In some way it summed up Amasya, a wonderfully adventurous place with an unsurpassed beauty.

If you look down..........



.....this is what you see.
                                                                                                                     










Viagem de trem para Amasya.

Saímos depois do almoço, de Malátya, para a estação ferroviária. Viajar de trem é tudo de bom!! Era nossa quarta viagem de trem e faríamos a última, no dia seguinte.
 De Malatya, seguimos para Sivas, dormimos lá e de manhã, fomos para Amasya, também de trem. Que viagem bonita!
No trem de Malatya, entrou conosco uma família e literalmente encheu o compartimento de bagagens todinho. Malas, pacotes, caixas, fardos de lã, caixas e caixas de damascos. Parecia que tinham um armazém e outro lugar e estavam levando todas as delícias de Malatya, para vender. Depois de muita carga, ficaram no trem, somente uma senhora, uma mulher mais jovem e um menininho. Reparei que a mulher tinha recebido um beijo na testa de um marido muito e muito alto, ao se despedirem.
Acomodamo-nos e o trem partiu, com aparelhos de tv sucessivos, passando documentários do Discovery Channel.
Depois só me lembro de ter ouvido uma mãe ralhando e um menininho escapando como ventania, pelo corredor do vagão. Curioso, levantava os braços das cadeiras, sentava em todas as vazias, pressionava os botões de inclinar, tentava virar os encostos, enfim, fazendo tudo que sua mãe não queria que ele fizesse, mas ele jamais poderia ficar quieto e sentado a viagem inteira. Era querer demais para um garotinho tão esperto.
Levantou o braço de uma cadeira oposta à minha e fez: TATATAAA! Não tive dúvida. Morri. E de língua para fora. Mas logo revivi e também o matei, e ele, claro, morreu de língua para fora. E nesta bobagem ficamos um tempo,  não muito, mas o suficiente para que ele se aproximasse para fazer maiores contatos. Logo mais, estava no meu colo remexendo tudo que era visível e conversando em seu turco de criança e eu, respondendo em português, e rimos muito e logo mais estávamos apaixonados um pelo outro. Com o auxílio de um rapaz sentado ao lado, muito simpático e disposto a curtir nosso namoro, descobri que seu nome é Ekran e que apesar de ser altão, ele tinha somente dois anos e meio.
A mãe e a avó pareciam estar em um sentimento que pairava entre apreensão por Ekran estar com gente estranha e alívio, por estarem um pouco sem ele. É irriquieto e muito esperto. Não tem parada um instante, é muito curioso e participativo. Brincamos de tudo e um pouco antes de sairmos, bati algumas fotos deste menino que vai arrebatar os corações das garotas, quando crescer...
Que Allah sempre te proteja, meu amiguinho.


Meu namorado (boyfrien? me? Yes)

Mustafa, nosso simpático intérprete.

Foi muito difícil tirar uma foto assim, paradinho.

Até um dia, meu lindo!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Nemrud

Nemrud, face do por do sol
Depois de um khavalti maravilhoso, no hotel Kirçuval, arrumamos as malas para ir para Nemrud Dağ, a algumas horas de distância. Saímos às 11h, almoçamos no caminho, seguimos viagem pela estrada cheia de curvas, mirando uma paisagem fértil, nos vales e árida, nos picos, subindo sempre. Passamos por tributários do Eufrates, vimos o quanto estava seco o outono, mas ainda assim, a paisagem era linda, com brisas penteando os álamos, que estavam começando a amarelar e perder as folhas. Riachos cristalinos cascateando entre as lavouras, o campo sem cercas, a lenha cortada, tudo pronto para esperar o tempo frio, que já se anunciava.
Na região da Malatya, cerca de 50% da população é curda ou de descendência curda. As músicas são diferentes e a língua é tão distinta, que mesmo não entendendo nenhuma das duas, sabemos que não é turco, o que falavam.
Tributário do Eufrates, com seu leito pedregoso exposto, quase seco
Chegamos ao hotel, lá pelas 3 da tarde, não porque fosse muito longe, mas a estrada sobe, cheia de curvas, e paramos algumas vezes, no caminho. O motorista pisava...
A paisagem foi mudando, de verde e fértil, para seca e rochosa. A transição do vale para as montanhas, ficando nítida, à medida que subíamos a serra.
O monte Nemrud é um dos picos mais altos, se não o mais alto. Foi na cratera de um vulcão extinto que o rei Antiochus I resolveu erigir o seu túmulo. E seu túmulo tinha que ser grandioso, afinal, clamava ser descendente de Alexandre, o Grande. Filho de um soldado macedônio, da família de Alexandre e uma princesa persa, cultuava os deuses gregos e persas, ao mesmo tempo e esta dualidade está preservada no seu túmulo-templo. Aparentemente, construíram os templos, antes da morte do rei, quando morreu, foi sepultado no meio da montanha e depois foi erigido o pico, com pedras soltas.
O pico tinha 75m de altura, mas o pesquisador alemão, Karl Sester, em 1881, inspirado na descoberta da riquíssima tumba do rei Tut Ank Amun, no Egito, achava que ia descobrir tesouros, na tumba de Antiochus, dinamitou a montanha, que perdeu 25 metros de altitude, esparramando as pedras pelo local. Nada encontrou. Só fez sua cota de estrago. Devia ter ficado no seu ofício de engenheiro, construindo estradas, que seria mais proveitoso para a humanidade.
Face "nascer-do-sol", com vista para o trailer do guarda (sujeito sinistro!).

O túmulo é disposto em duas faces da montanha. Uma face dá para o leste, a face "nascer do sol" (Gün eş) e a face oeste, que dá para o por-do-sol. Então, a visitação é feita da seguinte maneira: você vai ver o por do sol, em um dia, no outro você vê o amanhecer e entende o espírito do culto ao sol, que se revela na disposição do túmulo. As figuras e efígies são dos mesmos deuses, o que varia é a roupa e o adorno da cabeça. O panteão é de deuses que se correspondem, tanto no culto grego, quanto no persa. Só vendo uma reconstrução de um dos templos, para entender. Os dois templos são idênticos. As figuras dos colossos assentados permanecem, mas as cabeças foram derrubadas, de propósito e quebradas, pelos cristãos e seu fanatismo iconoclasta. O Tempo é um grande escultor.
Reconstrução do templo e dos colossos.

Também os terremotos que assolam este país tectônico, nada ajudaram na preservação deste monumento, porém continua chamando a atenção de milhares de turistas. Nós pensávamos que não íamos encontrar muitos, mas no por do sol estava cheio e a maior dificuldade foi tirar fotos sem gente ou pelo menos um sinal, como sacolinhas ou garrafas de água. Imaginamos que, pelo menos no nascer do sol ia ter menos gente. Que nada! Parecia que a Turquia inteira estava lá, mais os russos, italianos, franceses, alemães, ingleses, brasileiros (sim, tinha mais!!!), ibéricos, escandinavos, enfim, gente do mundo inteirinho.
Da esquerda para a direita, os deuses são: o leão e a águia, adorados pelos persas, Apolo (Mithras),  AfroditeTyché (Bakht), Zeus (Ahura Mazda), o próprio rei Antiochus, Héracles (Vahagn) e novamente a águia e o leão. Parece que na Antiguidade, as imagens dos reis eram perpetuadas, ao lado das estátuas dos deuses, talvez para dar proteção, poder, para impressionar os súditos ou porque se achavam semideuses, mesmo. Não se sabe ao certo, mas é muito comum ver soberanos, fidalgos e deuses, em uma sequência de estátuas.
Cabeça de Apolo, com seus raios na cabeça, e a águia.
A paisagem que do monte Nemrud se avista, é simplesmente bela, apesar de pedregosa, árida e longínqua.
O horizonte é deslumbrante e é um dos lugares lindos, que valem a pena ser visitados, neste país tão cheio de encantos. Vale o tempo de viagem e o sacrifício às intempéries.
O  Motel Güneş, onde ficamos, fica na base do monte e do lado do amanhecer. Seu gerente, Hussein, muito simpático, estava com gripe (sim, eu peguei!), mas nos atendeu da melhor maneira. O hotel é do governo e estão construindo um bem maior, ao lado. Hussein, depois da janta, em uma mesa bem comprida, com três pessoas em cada ponta, nos ofereceu um chá (çay) em seu quarto, o mais quente do hotel, pois tinha um aquecedor de ferro, onde ele já esquentava a água do samovar. E com a TV e o computador ligados, conversou conosco um tempão, contando sua história tão diferente. É curdo e mora na vila, a 40km da montanha. Aprendeu a falar inglês, alemão e algumas noções de francês, sozinho. Percebeu, que se não se habilitasse nas línguas, ia ficar lavando pratos para o resto da vida. Contou que seu pai queria ser professor, mas teve uma juventude muito difícil. Aprendeu turco otomano, na escola, e na hora em que ia se formar, Atatürk mudou o alfabeto. O turco era escrito da direita para a esquerda em alfabeto árabe, por causa do Qu'ran, mas com a secularização da língua, passou a ser escrito da esquerda para a direita e com o alfabeto latino!!! Teve de aprender a ler, de novo e isso levou o tempo necessário para que perdesse a oportunidade de estudar mais e ser professor, como queria.
Rei Antiochus I
Também nos contou, que o clima da região é muito extremo, que no verão as temperaturas chegam de 45 a 50ºC e no inverno, há nevascas violentas que chegam a três metros de altura de neve. O hotel ia fechar, de novembro a abril e nós éramos os últimos turistas da temporada.
Isto foi o suficiente para o Gerson se lembrar do filme, "O Iluminado".
Fomos dormir, pela segunda vez, em quartos separados, não gostando nada desta ideia. Preferia ter o Gé ao meu lado, durante aquela noite cheia de eventos nervosos e meio paranormais, como batidas nas paredes, sopros de vento quente, com um frio de todos os diabos e as janelas hermeticamente fechada, bem como sensação de sopros gelados.
Bem, o Les encontra suas explicações, para justificar sua valentia, mas nós, que gostamos de sentir o ambiente que nos vai à volta, não explicamos nada e passamos todos os medos que temos direito...
No dia seguinte, Hussein nos acordou às 5h e fomos então ver o sol nascer em Nemrud. Não passaríamos medos, afinal estava cheio de gente, lá em cima. Fazia muito e muito frio e usamos todos os aparatos de frio que trouxemos, pelo menos esta vez.
Primeiros raios de sol
Até os turcos estavam embrulhados em cobertores, emprestados dos hotéis. Imaginem o frio que estávamos passando!!!
A nota bizarra, foi um italiano de bermuda e camiseta, bancando o valentão, mas sem arrepiar.
O amanhecer
Os horizontes são indescritíveis, sem uma foto para ilustrar. Avistar, ao longe, o rio Eufrates, sendo barrado pela represa de Atatürk (sempre ele!), é muito emocionante. E lindo! Nesta última foto, pode ser visto bem o fundo, o belo rio Firat (Eufrates), com sua represa.
Infelizmente, a beleza deste lugar, não cabe nas fotos. Mas já dá para se ter uma ideia da emoção que sentimos.
Nemrud é um sítio com as limitações do frio e só pode ser visitado na época das temperaturas mais quentes, desde a primavera até o outono. Nos meses frios, fica inóspito demais. Enquanto tirava as últimas fotos de Nemrud, o guarda sinistro passou por perto e avisou (na sua língua) que a van já estava me esperando. Eu, aproveitando da ausência total dos turistas que tinham ido embora e da minha dificuldade de locomoção, para ficar mais um pouquinho, tirei mais umas fotos da minha prórpia sombra se projetando nas estátuas e me despedi dos colossos, talvez para sempre, pois o Les falou que não volta mais, para ver um monumento à vaidade humana.
Mas, se não fosse a vaidade humana, não haveria monumentos...
Gün eş.

Turcos, de cobertor, em suas viagens de Bayran e o rio Firat, ao nascer do sol.

O vaidoso, Antiochus I

domingo, 13 de abril de 2014

Arslantepe - uma viagem no tempo

Portal de Arslantepe
Há lugares que impressionam, na hora. Quando você vê, pela primeira vez um monumento, uma cidade em ruínas, uma peça de museu jamais imaginada, uma paisagem inusitada e você se impressiona. Mas há lugares que impressionam mais tarde. Que você olha e fica pensando por muito tempo, ruminando as ideias, revendo mentalmente tudo que marcou alí.
Assim foi, com Arslantepe, um subúrbio a uma meia hora de Malatya. Para lá chegar, tomamos um ônibus velhusco, fomos observando a paisagem quase nua, apenas plantações de damasco, já sem folhas. Faz mais frio, na região.
Chegamos a uma cidadezinha linda, toda em estilo otomano, com casinhas pintadinhas de novo, uma mini-mesquita, super mimosa, cantando o ezan do meio dia. Uma rua comprida, que terminava em uma escola e era hora do recreio.
Como estávamos em uma região muito próxima à Síria, passaram três aviões de guerra, patrulhando. Só para dar um friozinho na espinha, de emoção, pois onde pousava nosso olhar, só havia paz.
                                ***
Passando perto da escolinha, fui chamada por uma menina e parei para conversar com ela. Era linda, uns 8 anos, dentinhos cariados. Junto com ela, mais algumas meninas, uns dois ou três meninos. A simpatia foi imediata, mas o inglês, nesta hora, pensei, não ia adiantar muito... Engano meu. Qual não foi minha surpresa a menina falou um estridente"good morning"! e em seguida, todas as expressões de diálogo de que ela pode se lembrar. Pedindo e dando as respostas."What's your name, where are you from, how old are you (risos), good night, good afternoon, how do you do, hi, hello, excuse me, what time is it, sit down, e por fim, um sonoro I love you (muitas gargalhadas)!!!"
Este diálogo maluco só fez as outras crianças participarem e darem sua demonstração de que aprendiam inglês na escola, de que eram desembaraçadas e muito simpáticas.
Emira (a menina do meio), I love you too.

A sessão de fotos terminou quando Gerson e Les chegaram à altura da escola, pois eu havia disparado antes. Despedi-me da criançada com muitos beijos de amor eterno e fomos continuando a caminhada aos gritos de, "I love you", e eu respondendo, "Forever".
 No final da rua, havia uma belíssima horta, com repolhos gigantescos, à direita e à esquerda um magnífico portal, que nos conduziria a Arslantepe.
E o que é Arslantepe? Um tell, um tepe = colina. Mas não é uma colina comum. Na verdade, uma colina feita de cidades superpostas, que vai subindo, com as eras de entulho acumulado, uns sobre os outros. Principalmente construídas de pedras misturadas a tijolos de lama crua, como adobes, mas de um sedimento fino e friável, pouco consolidado, que vai se desgastando, com as intempéries e desmoronando, e outra edificação é construída em cima da primeira. Desde o período Calcolítico inferior (4250-3900 AC, anterior à civilização de Ur), até o período romano-bizantino (até VI DC), Arslantepe tem 12 camadas.
As escavações de Arslantepe estão sendo feitas desde 1961, quando professores da universidade da Italia procuravam pelas civilizações neo-hititas, pois parece que na região de Malatya, a cidade de Malidiya, foi a capital onde o império hitita teve fim. Encontraram esta colina de topo achatado, no meio do nada e colinas com esse formato, no mundo antigo, são cidades sobrepostas soterradas.
Nos primeiros estratos, foram encontrados igrejas sarcófagos e tumbas bizantinas, e na continuação das escavações foram encontrando civilizações em camada, como se fossem as páginas do livro de história da humanidade.
Uma casa, em uma rua muito estreita. Devia ser um local de destaque.
O nome da colina deve-se à Porta dos Leões, da cidade hitita encontrada no meio do entulho de argila. Colina dos Leões (Arslan = leão). No estrato hitita, encontraram moldes de metalurgia, machados, espadas de bronze, também os primeiros registros de ferro, o metal por que os hititas se caracterizavam. Espadas enferrujadas que ao mirá-las você percebe que tirou muitas vidas. Espadas dos guerreiros desta civilização belicosa, que perseguiam os egípcios, que tinham carros puxados a cavalo, que construíram imensas cidades fortificadas e foram muito poderosos. Sim, porque todos os hititas eram guerreiros, mesmo os lavradores, pastores e artífices. Que bela arte faziam, sabiam escrever letras cuneiformes e antes disso alguns hieróglifos típicos. Escultores hábeis, arquitetos, engenheiros, eram também religiosos, cultuavam cerca de 8 mil deuses.
Mas continuaram escavando, até chegar no último estrato, do período Calcolítico e Neolítico Superior, ou seja, quando homem começava a fazer uso da cerâmica, mas ainda usava muitos objetos de pedra polida. Logo entrando na idade do Cobre, que é onde começam a aparecer os primeiros aglomerados humanos estáveis, devido à lavoura, à domesticação dos animais. É a idade da cidade mais antiga das escavações de Arslantepe. Um pouco anterior à civilização Uruk, de Ur.
Rua estreita de umas das primeiras cidades do mundo.

Nesta cidade encontraram vasilhas e panelas de barro, ânforas de água bem grandes (não tão grandes como os enormes vasos dos hititas), incensórios, filtros e funis. Talvez já houvesse a roda, mas não carros puxados por animais, pois para isso seria necessário haver estradas, e as ruas de Arslantepe são muito estreitas.
Virando à esquerda em uma esquina. um grande templo se apresenta, com muitas pedras de sacrifício e possivelmente um trono para o rei ou sacerdote.
Ao lado das ruínas do tepe, há uma réplica de duas casinhas, de como deveriam ser por dentro, a partir dos indícios encontrados. Posso dizer que qualquer família de hoje poderia viver numa casinha como aquelas, acanhadas, decerto, despojadas de todos os nossos confortos, mas quente e aconchegante, coberta de espessa palha,  e começava a chover.
Nosso guia era lindo e nos deu um folheto e um dvd, com um mini-documentário das escavações de Arslantepe, em homenagem a um membro falecido da equipe, o homem que juntava os caquinhos das cerâmicas, um por um, até montar uma vasilha, um pote de água ou de azeite, um incensório, como se fosse um imenso quebra-cabeças.
Arslantepe ficou gravada em minha mente. Volta e meia passeio por lá, em meus devaneios.
Objetos hititas encontrados em Arslantepe - Museu de Amasya
Tumba bizantina no útimo estrato do tepe.
Depois de passarmos pelo templo e subirmos até a era Bizantina, no topo da colina, nos despedimos do guia e voltamos a ver a horta, a escolinha, a longa rua que nos levaria de volta a Malatya.
As ruínas são protegidas contra as intempéries para que não desmoronem ainda mais



quarta-feira, 9 de abril de 2014

Malatya

Depois de uma longa viagem de trem, chegamos a Malatya, a terra do damasco. Como falei anteriormente, na Turquia, a região que produz muito uma coisa, este produto é exaltado em uma estátua, kitsch no último, na entrada da cidade mais produtiva, em um ponto bem visível. Admirem-se portanto com o damasco enorme de Malatya, que ficava bem pertinho do hotel Kirçuval, onde ficamos. E acrescento que o Kirçuval foi um dos melhores hotéis. Acomodações espetaculares, tratamento muito bom, café da manhã, com uma tremenda fartura, porém fica em um local extremamente barulhento. Talvez por isso não ganhe mais estrelinhas. Mas a canseira sempre ajuda nesta hora...
É que a cidade nos oferecia Arslantepe, um subúrbio interessantíssimo e, no dia seguinte, o ponto mais alto de nossa viagem, a montanha de Nemrud.
As pessoas de Malatya são amigáveis, todos tratam muito bem a todos, não é especial para o turista, porque não é o forte da região. Fizemos muitos amigos. Também, comendo damasco e numa paisagem daquelas, não é de se admirar que todos sejam gentis...
Uma nota especial para uma loja de produtos feitos com damasco. Damascos secos ao sol, na máquina, sementes de damasco torradas, com sal, sem sal, cumaredine enrolado com pistache, com amêndoas, com sementes de damasco, óleo de semente de damasco, doces com cara de quebra queixo, com chocolate, era tanta coisa na lojinha! Todo mundo muito simpático. Loja tocada pela família, todos irmãos. Fiz amizade com todos a ponto de apresentarem a mãe. Em duas idas à loja, fiquei amiga da família inteira.
Uma das muitas famílias dedicadas em aproveitar o damasco de todas as maneiras. Com as cascas duras da semente, fazem bloquetes de calçamento. O que sobra do damasco? Absolutamente nada. Como secam as frutas e exportam, não há desperdício.
Esta é uma lição que devemos aprender.
Terra de muita fartura, Malatya nos pegou desprevenidos, com tantas guloseimas feitas com damasco. Ah!!!!

domingo, 23 de março de 2014

Ankara

Capital da República da Turquia.
Ankara (diga, Ánkara) tem seu valor histórico, foi parte da pré-história, foi assentamento de diversos povos, foi parte do império hitita, grego, romano/bizantino, e como toda a região, foi parte do Império Otomano, cuja capital era Istambul.
No início do século XX, o sultão estava perdendo suas rédeas, no governo, insurgências de diversas minorias começavam a aparecer, o dinheiro sumia, a administração era corrupta demais.
Havia, no Império, tolerância para com os diversos povos que nele habitavam: curdos, armênios, gregos, judeus, povos de origem árabe, e todos queriam se separar do império otomano e havia também, muitas rebeliões nas fronteiras com os países do Império Austro-húngaro, nas Balcãs. Tudo isso originou a Primeira Guerra Mundial.
Em Ankara, começou, então um movimento para a proclamação da República da Turquia, que aconteceu no dia 19 de outubro, de 1922. Foi derrubado o império otomano, o líder da rebelião, Mustafa Kemal, mais conhecido pelo nome de Atatürk, foi empossado presidente, as minorias foram expulsas do país e a capital passou a ser Ankara, que se situa bem no centro da Anatólia.
Aqui vai um retrato de Atatürk, como não podia deixar de ser, pois quem vai à Turquia, vai ver este rosto em todo lugar.

Uma das coisas mais importantes que ele fez, foi decretar que, a partir da proclamação da República, todo mundo passasse a ter nome e sobrenome, pois até então, ninguém tinha sobrenome!!!
Outra medida importante, foi transformar a língua turca, que utilizava o alfabeto árabe para ser escrita, e passou a ter seu alfabeto com letras ocidentais, secularizando também a língua.
Muitas outras medidas foram tomadas, para que a Turquia se unificasse como país, mesmo que algumas delas fossem cruéis. Atatürk era adepto do Iluminismo, prezava muito a cultura, a ciência, a arte, a tecnologia e queria modernizar o estado.
É claro, que o progresso daí advindo, foi grande, apesar dos conflitos e rebeliões intestinas, apesar de medidas duras para com os povos das minorias étnicas. A república se beneficiou tanto de suas mudanças, que é reverenciado até hoje, como grande líder, que sem dúvida, foi.
Seu mausoléu está em Ankara. Fomos visitar o museu da República, muito andamos em Ankara, mas a cidade é gigante, quase nada conhecemos.
Subida para a Citadela 
Gralha e passarinhos no jardim da Citadela
Fomos aos museus que conseguimos visitar, apesar de todo nosso cansaço. Afinal, Ankara era passagem obrigatória para Malatya, para onde iríamos, depois. Nesta passagem, fizemos tudo que deu para fazer, mas foi lá que nosso comandante perdeu a bússola...
Vista da Citadela, ao amanhecer, com a atmosfera pesada de poluição. Ankara.



Fomos à citadela de Ankara, para vermos o lado antigo da cidade, com casas otomanas, o lado moderno parece-se muito com São Paulo. Não ficamos curiosos demais. Porém a cidade tem muita coisa a oferecer. 
O mais importante que fizemos em Ankara, foram as visitas aos museus. Vimos o museu Étnico, o Antropológico (que pena que estava em reforma, deixamos de ver dois recintos) e o da República.
Ao lado do museu Étnico (que prédio bonito!) há outro museu, mas estávamos tão cansados, que deixamos para a "próxima vez", o que é um erro, mas eu estava exausta demais para protestar.
Como talvez fale sobre museus, mais tarde ou talvez não fale, vamos passar por Ankara, mais rapidamente.
Devo registrar aqui, um restaurante, onde comemos as mais deliciosas meze e refeições. O nome do restaurante é Bogaskale. Nome de uma das localidades que iríamos mais tarde.
 Foi em Ankara, no Museu Antropológico, que começamos a perceber a presença dos hititas, na civilização. É impressionante a quantidade de relíquias e cidades deste povo guerreiro, que viveu há tanto tempo, descobriu tantas coisas, fabricou tantos objetos de arte, monumentos, estelas, estátuas, baixos-relevos, joias, armas, carruagens de linhas simples e leves, técnicas de construção super interessantes, enfim, toda uma civilização extinta no século VII aC. Extintos mas viveram cerca de um milênio e seu império se situava nos terrenos férteis da Ásia Menor.
Rivalizavam-se com os egípcios, em termos de poder e grandeza. A partir de Ankara, os hititas estarão mais presentes em nossos passeios.