Portal de Arslantepe |
Assim foi, com Arslantepe, um subúrbio a uma meia hora de Malatya. Para lá chegar, tomamos um ônibus velhusco, fomos observando a paisagem quase nua, apenas plantações de damasco, já sem folhas. Faz mais frio, na região.
Chegamos a uma cidadezinha linda, toda em estilo otomano, com casinhas pintadinhas de novo, uma mini-mesquita, super mimosa, cantando o ezan do meio dia. Uma rua comprida, que terminava em uma escola e era hora do recreio.
Como estávamos em uma região muito próxima à Síria, passaram três aviões de guerra, patrulhando. Só para dar um friozinho na espinha, de emoção, pois onde pousava nosso olhar, só havia paz.
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Passando perto da escolinha, fui chamada por uma menina e parei para conversar com ela. Era linda, uns 8 anos, dentinhos cariados. Junto com ela, mais algumas meninas, uns dois ou três meninos. A simpatia foi imediata, mas o inglês, nesta hora, pensei, não ia adiantar muito... Engano meu. Qual não foi minha surpresa a menina falou um estridente"good morning"! e em seguida, todas as expressões de diálogo de que ela pode se lembrar. Pedindo e dando as respostas."What's your name, where are you from, how old are you (risos), good night, good afternoon, how do you do, hi, hello, excuse me, what time is it, sit down, e por fim, um sonoro I love you (muitas gargalhadas)!!!"
Este diálogo maluco só fez as outras crianças participarem e darem sua demonstração de que aprendiam inglês na escola, de que eram desembaraçadas e muito simpáticas.
Emira (a menina do meio), I love you too. |
A sessão de fotos terminou quando Gerson e Les chegaram à altura da escola, pois eu havia disparado antes. Despedi-me da criançada com muitos beijos de amor eterno e fomos continuando a caminhada aos gritos de, "I love you", e eu respondendo, "Forever".
No final da rua, havia uma belíssima horta, com repolhos gigantescos, à direita e à esquerda um magnífico portal, que nos conduziria a Arslantepe.
E o que é Arslantepe? Um tell, um tepe = colina. Mas não é uma colina comum. Na verdade, uma colina feita de cidades superpostas, que vai subindo, com as eras de entulho acumulado, uns sobre os outros. Principalmente construídas de pedras misturadas a tijolos de lama crua, como adobes, mas de um sedimento fino e friável, pouco consolidado, que vai se desgastando, com as intempéries e desmoronando, e outra edificação é construída em cima da primeira. Desde o período Calcolítico inferior (4250-3900 AC, anterior à civilização de Ur), até o período romano-bizantino (até VI DC), Arslantepe tem 12 camadas.
As escavações de Arslantepe estão sendo feitas desde 1961, quando professores da universidade da Italia procuravam pelas civilizações neo-hititas, pois parece que na região de Malatya, a cidade de Malidiya, foi a capital onde o império hitita teve fim. Encontraram esta colina de topo achatado, no meio do nada e colinas com esse formato, no mundo antigo, são cidades sobrepostas soterradas.
Nos primeiros estratos, foram encontrados igrejas sarcófagos e tumbas bizantinas, e na continuação das escavações foram encontrando civilizações em camada, como se fossem as páginas do livro de história da humanidade.
Uma casa, em uma rua muito estreita. Devia ser um local de destaque. |
Mas continuaram escavando, até chegar no último estrato, do período Calcolítico e Neolítico Superior, ou seja, quando homem começava a fazer uso da cerâmica, mas ainda usava muitos objetos de pedra polida. Logo entrando na idade do Cobre, que é onde começam a aparecer os primeiros aglomerados humanos estáveis, devido à lavoura, à domesticação dos animais. É a idade da cidade mais antiga das escavações de Arslantepe. Um pouco anterior à civilização Uruk, de Ur.
Rua estreita de umas das primeiras cidades do mundo. |
Nesta cidade encontraram vasilhas e panelas de barro, ânforas de água bem grandes (não tão grandes como os enormes vasos dos hititas), incensórios, filtros e funis. Talvez já houvesse a roda, mas não carros puxados por animais, pois para isso seria necessário haver estradas, e as ruas de Arslantepe são muito estreitas.
Virando à esquerda em uma esquina. um grande templo se apresenta, com muitas pedras de sacrifício e possivelmente um trono para o rei ou sacerdote.
Ao lado das ruínas do tepe, há uma réplica de duas casinhas, de como deveriam ser por dentro, a partir dos indícios encontrados. Posso dizer que qualquer família de hoje poderia viver numa casinha como aquelas, acanhadas, decerto, despojadas de todos os nossos confortos, mas quente e aconchegante, coberta de espessa palha, e começava a chover.
Nosso guia era lindo e nos deu um folheto e um dvd, com um mini-documentário das escavações de Arslantepe, em homenagem a um membro falecido da equipe, o homem que juntava os caquinhos das cerâmicas, um por um, até montar uma vasilha, um pote de água ou de azeite, um incensório, como se fosse um imenso quebra-cabeças.
Arslantepe ficou gravada em minha mente. Volta e meia passeio por lá, em meus devaneios.
Objetos hititas encontrados em Arslantepe - Museu de Amasya |
Tumba bizantina no útimo estrato do tepe. |
As ruínas são protegidas contra as intempéries para que não desmoronem ainda mais |
Há mais duas camadas de cidades em Arslantepe: de 2013 para cá, descobriram mais duas, totalizando 14 cidades superpostas.
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