sábado, 1 de março de 2014

Musas e museus



Outro dia, abri um bolso onde guardo os ingressos de museus e sítios arqueológicos que visitamos, na Turquia e penso na pequena fortuna que gastamos para ver o que vimos e andar por onde andamos. Sim, para tudo, tem que pagar ingresso. Na porta das ruínas, lá está a esfinge de olhar cruel, dizendo a célebre frase: "Decifra-me ou te devoro."
É assim que imagino a Anatólia, a Ásia Menor, a Turquia: uma esfinge, que sopra em sua cabeça sua frase e abre suas portas para que decifremos suas questões. Coloca em nossa mente a vontade de investigar os porquês, de perguntar mais ainda e decifrar, mas como? É tanta coisa! São tantas civilizações superpostas, tantos os mistérios, que a Esfinge nos fisga com uma corrente de metal, como a que os otomanos esticavam no Bósforo, durante a noite para que nenhum navio entrasse no estreito. Não nos solta nunca mais.
Suga nossa medula e tutano, levando de nós cada centavo economizado, deixando dívidas em seu lugar, mas nos mostra tanta beleza e nos recebe tão bem, que a única vontade que se tem é de voltar e conhecer mais e tentar decifrar, sabendo que não vai conseguir e lá deixar novamente tudo que você juntou.
Outra probleminha é o huzun. Um sentimento fininho, perfurante, doloroso, melancólico, que enche os olhos de lágrimas inexplicáveis. Quem sentiu, coitado, está perdido. Huzun só se parece com a música dos dervixes e só se traduz com o som do ney. Uma dor bonita! Uma melancolia bela e variada, cheia de ventos de chuva e asas de gaivota, risos de crianças e minutos de silêncio, trânsito intenso e paisagens rurais, ruínas em meio à modernidade, plantações em estufa no centro da cidade, mercados e mercadores...
O huzun gruda como betume, difícil de desgrudar. Quem pegou, coitado, está perdido.
Os aromas da Turquia, os sabores, o sol acariciante do outono, a sua lindeza visual e o sentimento de huzun, traduzem-se no som da música que irei colocar a seguir. Escutem como dói o huzun e entendam o que sinto. 

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