sábado, 1 de março de 2014

Sagalassos - tradução

Texto de Leslie Walsh, tradução e pitacos, de Ane*
 
Uma rua de comércio, da cidade. A direita, a montanha de Alexandre, onde ele acampou, com suas tropas, para atacar Sagalassos.

Montanha de Alexandre, vista do teatro.



 A última das cidades romanas que iríamos visitar, seria Sagalassos.
Nunca tinha ouvido falar de Sagalassos, até que abri as páginas da revista de voo da Turkish Airlines, onde havia um artigo que descrevia algumas de suas belezas. Fiquei mesmerizado com a 'cidade das nuvens' e fiz uma nota mental para encontrá-la.
Desde seus primórdios, na Idade do Bronze, Sagalassos desenvolveu-se em um importante ponto de comércio entre os povos da Pisídia, localizada no ponto mais alto da rota de Antalya, para o  sul. As tribos pisídias eram da mesma cultura que os terméssios e quando Alexandre desviou-se para o norte, evitando Termessos, era óbvio que ele não deixaria uma hostil Sagalassos para trás. Há uma montanha ao sul da cidade, que leva seu nome, pois foi onde ele derrotou os exércitos pisídios que a defendiam. 
Localiza-se encrustada em uma parede rochosa, a uns 7 km da vila de Ağlasun, 4 km em linha reta, mas o motorista nos cobrou 30 liras para nos levar e buscar, duas horas mais tarde - nosso tempo era curto. Ağlasun é uma cidadezinha bonita que aos poucos está colhendo os benefícios do turismo arqueológico. Fica a 30 km de curvas através de pinheirais e córregos límpidos, de Isparta, a capital turca das rosas.
Os primeiros sinais de habitação são túmulos de pedra, na necrópole pré-romana, que fica esculpida no alto da rocha ao norte da cidade, mas nossa visita começa na cidade baixa.
Sagalassos, como outras cidades montanhosas, foi construída em níveis. A estrada ao sul, subindo até a Porta de Tibério, deve ter sido um portal impressionante em direção a esta cidade branca, feita de mármore. Esta estrada de colunas com pórticos, de 300m de comprimento, começa onde era um templo em louvor a Adriano, que deve ter sido erigido depois de sua morte, pois o imperador figura como deus.
Tumbas pisídias na Necrópole de Sagalassos

Como em todas as cidades da Ásia Menor, a presença de Adriano é forte, também aqui. Os pisídios foram facilmente dominados e adaptados pelos romanos. Alguns romanos mudaram-se para a cidade e sabe-se que 80 mil soldados romanos foram presenteados com terras, nesta região, no reinado de Augusto. Uma inundação de construções e produções artísticas tomou lugar nos tempos de Adriano e uma inscrição nos conta que Sagalassos foi chamada então, de "A primeira cidade da Pisídia", o que talvez tenha sido o estímulo para erguerem um templo de culto ao imperador.
Subindo os degraus através da Porta de Tibério, em direção a uma pequena ágora, com lojas circundando, algo estupendo acontece, ali se eleva uma parede dupla cujo centro era um grande chafariz. Este é o Nymphaeum de Adriano, mas apenas o nível inferior existe e a fonte desapareceu. Este é um dos quatro nymphaeae (ai que chique, meus deuses), em Sagalassos, pois o lugar é abençoado pelo abundante suprimento de água. As rochas calcárias filtram a água em leitos de pedra e canais trazem a água fresca e clara, das colinas circundantes.
Desde 1996, o sítio vem sendo trabalhado pela Universidade Católica de Lieven, da Bélgica, sob Marc Waelkens e já encontraram artefatos espetaculares e restauraram algumas edificações. Assim foi com o Nimphaeum central, de Antonino (construído no mesmo estilo que a biblioteca de Celsius, em Éfesus), na cidade alta, que teve seu abastecimento de água reconectado. É como ver o sangue correndo, de novo, em um corpo sem vida, ver a água corrente, que cascateia em um largo fontanário. Ele é a peça principal do sítio inteiro e levou 13 anos para ser restaurado. Com seus seis tabernáculos e nichos, que permitiam às famílias aristocráticas colocarem estátuas suas, ao lado das dos deuses.

O maravilhoso Nymphaeum de Antonino, com sua fontana, jorrando água fresca. Heroon, acima, à esquerda.
 
Detalhe do Nymphaeum de Antonino



Os pilares e cúpulas são decorados com máscaras teatrais, uvas e plantas entorpecentes (sexo, drogas e rock 'n' roll). Dionísio é grande, por aqui. Este deus e um cortejo de ninfas que dançam, está esculpido no afresco do Heroon, uma estrutura que parece uma torre, acima do Nymphaeum. Um heroon era construído em homenagem a alguém importante e este parece ter sido erigido a um jovem que introduziu o culto a Dionísio, na cidade. Marc Waelkens descreve a sua descoberta de uma estátua de Dionísio, dando a mão a um sátiro, quebrada em dois, de cabeça para baixo, dentro da bacia do nymphaeum. Quando ele a retirou de sua cama de britas, "parecia sorrir para mim, vendo a luz do dia, depois de 1400 anos enterrada".
Este Nymphaeum de Antonino, desmoronou com o terremoto do séc VI, mas a estatuária, algumas delas encomendadas à escola de Afrodisias, a oeste de lá, foram deliberadamente quebradas e atiradas na fontana, onde hoje a água novamente corre. Os cristãos não apreciavam Dionísio e seus sátiros.
Seguindo a estrada do Nymphaeum para o teatro, passa-se pela parte plebeia da cidade. Aqui era fabricada a característica cerâmica vermelha de Sagalassos, depois encontrada ao longo de todo o Mediterrâneo. Esta rua foi alargada no séc II e conduz diretamente à biblioteca e à Antiga Fonte Helenística. A biblioteca foi construída pelo mesmo bem-feitor do Heroon e é um belo edifício, com nichos entalhados na parede ao fundo, para as estátuas de deuses e fidalgos. Tem um lindo piso de mosaico.
Este edifício também foi reconstruído no século II e depois sofreu, nos terremotos dos séculos IV, V e VI. Desta vez, os cristãos zaleotes, destruíram o mosaico que representava Aquiles e encheram o edifício com entulho. Agora foi restaurada e coberta mais uma vez.
Salão da biblioteca e o lindo mosaico.
Fonte helenística, bela em sua simplicidade.

Detalhe: água límpida jorrando sempre.
 Do outro lado da rua, fica a fonte grega é um espaço tranquilo e a fonte teve a água reconectada, como o Nymphaeum de Antonino. É um pacífico edifício com três lados de colunas dóricas, que distribuía água para a parte baixa da cidade. Fomos subindo para o teatro, de onde se tem uma vista fantástica da paisagem circundante, e lá encontramos com um grupo de turistas australianos de origem grega, que estavam empolgados por terem sido capazes de ler as inscrições, na biblioteca. Este grupo acabava de chegar, porque em duas horas, de passeios pelo local, encontramos apenas um solitário turista alemão.
O teatro é uma estrutura enorme para o tamanho da cidade. Tão grande que nunca foi terminado. Tinha assentos para 90 mil espectadores e recebia plateia de toda a região. Sagalassos foi o ponto mais alto de nossa expedição romana. Marc Waelkens relata que encontrar este sítio intacto, depois de um milênio e meio, mudou sua vida para sempre, e não é difícil entender porquê.
Belvedere, a partir do teatro.

Um comentário:

  1. Que aventura linda e emocionante esta que vocês vivenciaram!!! Passear por estes lugares é passear pela história!!! É sentir- se neste século, neste período tão encantador!!! Senti vontade de também passear por estes lugares, mas, enquanto ainda não posso, delicio-me com estas imagens que deixastes aqui, juntamente com o belíssimo texto!!! Muito obrigada por partilhar conosco!!!

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