sábado, 23 de novembro de 2013

Perge - Céu de chuva.




Perge era uma grande cidade. Capital da Pamphilia, no Império Grego, absorvida pelos romanos, hoje é feita de ruínas, a cerca de 15 km de Antalya. Fiquei admirada em saber quanto calor faz no litoral turco. É realmente muito quente, no verão, chegando facilmente à marca dos 40ºC. Durante o inverno, os dias são ensolarados, as noites, mais frias. A temperatura em Antalya era cerca de 25ºC durante o dia e à noite, caía um pouco mais, mas com uma camisa de manga comprida, estávamos confortáveis.
Durante o caminho para Perge, choveu muito. Uma chuva morna, trazendo mais evaporação. Quando lá chegamos, parou de chover, e estava claro quando saímos, mas no caminho para Side, choveu novamente - era o Outono definindo as temperaturas. O céu com mil cores cinzentas, apresentava o espetáculo de conhecer aquela grande cidade. 
Perge era sede administrativa do porto de Side, as duas cidades mais importantes da província de Pamphilia.
A cidade é grandiosa, mas muito do sítio é interditado à visitação turística, porque estão ainda escavando e restaurando edificações, como o teatro, que estava totalmente coberto, um dos templos, também, mais uma parte da cidade, não pudemos entrar. E ainda assim ficamos cansados de percorrer o restante da cidade. 
As termas de Perge são lindas. O terremoto destruiu as piscinas porém deixou uma verdadeira radiografia de como funcionavam as caldeiras, para aquecer o caldarium.
 De acordo com uma explicação que ouvi, grandes tachos de cobre eram aquecidos e o vapor aquecia a piscina do Caldarium (banho de água quente) sobre as caldeiras, a temperaturas quentes porém suportáveis. O vapor condensava nas paredes internas e quando havia vapor demais, era liberado para aquecer a piscina ao lado, do Tepidarium (banho de água morna). Depois de passar pelo banho morno, havia um banho frio, no Frigidarium, que estimulava a circulação, sem fazer choques térmicos. Depois disso, a pessoa era besuntada com azeite de oliva, que penetrava fundo na pele, já amolecida pelos banhos, era raspada com um instrumento feito de osso ou marfim, que cada um tinha o seu, e saía toda a sujeira e pele velha. Então era massageado com ervas e voltava para o ciclo de banhos, no Caldarium. 
Depois da última ida ao Frigidarium, a pessoa estaria completamente limpa e pronta para a próxima orgia...
Antes de entrar no banho, talvez esperando em uma fila, havia esta arcada de colunas na entrada do balneário, chamada Parlatorium, que era onde a galera ficava batendo papo, falando uns dos outros, das celebridades, das festas, dos cultos, do seu gladiador favorito, enfim, o que falam as pessoas.
Céu de chuva
Algo muito interessante sobre o clima e o conforto térmico em Perge. No final da avenida de colunas, há um Nymphaeum, que vem a ser um chafariz, uma fontana, que abastecia de água aquela parte da cidade, servia para cultuar as ninfas e o deus do rio que passa ali perto e de onde era retirada a água do Nymphaeum. A partir do chafariz, o excedente da água corria em um canal no meio da rua. Quando o calor ficava insuportável, fechavam-se as comportas deste canal, fazendo a avenida, que é toda de mármore, ficar inundada. Neste momento, as pessoas deviam circular sobre as calçadas, mais altas que a rua. Esta inundação artificial refrescava a entrada da cidade. Devia ser linda, a cidade assim, com um filme de água passando pela rua. Devia brilhar muito, pois o sol é bravo.
Esta ideia, de fazer correr um canal de água pela cidade, foi copiada em uma das ruas principais de Antalya, onde passa o bondinho. A avenida é linda, sombreada e fresca, e o canal parece ser o responsável por esta delícia.
Nas ruínas de Perge havia muitos turistas. Foi difícil tirar fotos sem eles. Mas consegui algumas interessantes, mesmo assim.
Canal que sai do Nymphaeum e percorre toda a avenida.
 Em Perge, a vida devia ser agitada, havia muita gente influente, o Imperador Adriano visitou a cidade. Ele era muito popular na Anatólia. Gostava muito de lá e em todas as cidades por onde passamos, algum monumento, como um portal, as termas, uma estátua, eram erigidos para celebrar sua passagem.
Falando nisso, acho que está na hora de reler, "Memórias de Adriano", de Marguerite Yourcenar...
Recomendo.



Ao fundo, o Nymphaeum.

Um comentário:

  1. É magnífica a sua descrição de Perge Ane, É realmente tão rica em qualidades narrativas que a gente "viaja" pelo tempo e vivencia o pulso da antiga cidade sem sequer ter visitado as ruinas !!

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