segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Afrodísias - tradução e pitacos.



Sebasteion (a maioria dos relevos originais, se encontram no museu)
Reclinado em seu divã, em sua vila, em Roma, de luto por Antínoo, o imperador Adriano decide encomendar mais uma estátua de seu amante morto, para Pápias, de Afrodísias. Não se esquece também de pedir para que fizesse uma versão mais delgada da estátua de Antonino, outro escultor de Afrodísias, para facilitar o transporte, estátua esta que se encontra, hoje, em Roma. Porque em Afrodísias, que fica em um plano a uns 100 km de Hierápolis, era sede de uma escola de escultores e sua fama era conhecida em todo Império e muito do que estes artistas criaram, pode ser visto no museu recentemente construído para abrigar os objetos desta cidade.
A ágora, com seus mosaicos e piscinas já protegidos para o inverno.

O Vestíbulo dos Imperadores, onde a estátua de Domiciano foi quebrada em trinta pedaços, por ordem do Senado, em sua morte, em 96 AD, e foi restaurada ou o Odeon, com seus filósofos e poetas.
Mas as esculturas mais impressionantes são os relevos do Sebasteion. Eles foram removidos das escavações do complexo do Sebasteion, um caminho com pórticos de três andares de cada lado, conduzindo ao templo de Augusto. Uma pequena porção ainda permanece (na foto acima) e fotografa alguns heróis mitológicos e as famílias dos imperadores romanos. Foi iniciada por Zoilos, um grande bem-feitor de Afrodísias e concluídos por outras famílias de patrícios importantes. Zoilos, de humildes origens escravas, foi favorecido pelo imperador Augusto e ele, em retorno, financiou muitas construções em sua cidade natal. No palco lateral do Teatro, uma carta de Augusto está inscrita:
"Esta é a única cidade da Ásia, que eu tomaria para mim".
A ágora, vista total

Templo de Afrodite, tendo ao fundo as paredes da basílica bizantina que foi construída sobre ele, usando o material de construção do templo, que era enorme e ficou reduzido a essas 14 colunas.

No entanto, se você passasse por este lugar, há uns 50 anos, você procuraria em vão por sua glória, pois Afrodísias começou a ser excvada nos anos 60s. A pequena vila que estava no centro, foi removida para outro lugar alí perto (Geyre), os relevos e esculturas foram restaurados e um museu foi construído para eles.
Como o nome indica, era a deusa Afrodite, a deusa do amor e da beleza, que presidia a cidade. Há diversas estátuas, bustos e cabeças da deusa e o imponente Templo de Afrodite, datado dos tempos mais antigos mas ampliado por termas, que datam da visita de Adriano, provavelmente em 123 AD.
Estátua emasculada e mutilada pelos bizantinos, do imperador Adriano, diante do Tepidarium das termas que levam seu nome. Os bizantinos execravam os banhos mistos dos romanos.

Afrodite, na Anatólia, simbolizava a fertilidade, mas a beleza de Afrodísias é o maior presente seu, que ainda permanece. Você faz uma ideia de como era lindo, vendo a reconstrução gráfica computadorizada, no museu. A porta monumental (Tetrapylon), a entrada do templo de Afrodite, um estádio em tamanho olímpico (para uma cidade de dez mil habitantes), o Sebasteion, magicamente restaurados ao toque de um botão, é desafiador para nossa imaginação.

Teatro grego, destruído nos terremotos do século IV e VI.
A reconstrução ajuda, pois pouco restou do templo, depois de alguns terremotos e o vandalismo dos cristãos bizantinos. Apenas 14 colunas ainda existem. Adriano não se surpreenderia com a destruição nem com o fanatismo dos cristãos ou o contraponto islâmico, de hoje. Os deuses antigos eram parte de uma totalidade. Coexistiam e complementavam-se e Afrodísias é um testemunho da igualdade religiosa.
(texto de Leslie Walsh, traduzido por mim)

Estádio gigantesco, que foi subdividido depois do terremoto do séc. IV, para servir de teatro, também, além de hipódromo e para atletismo e lutas de gladiadores com ou sem feras.
 Há ainda muito a falar sobre Afrodísias, esta cidade da Cária, que já foi persa, foi do império grego, foi anexada ao império romano, depois dos romanos, foi tomada pelos cristãos bizantinos, dessacralizada, massacrada, quebraram a estatuária, destruíram o templo de Afrodite, reconstruíram a cidade toda com as pedras das ruínas, foi  ativa até o século VI, quando um enorme terremoto acabou com o sistema de encanamento e captação de água, alagando parte da cidade.
Seu maior tesouro em esculturas, encontra-se no museu anexo ao sítio, onde estão os afrescos do Sebasteion, que estavam em suas paredes internas e externas e as estátuas que ficavam em cada vão entre duas colunas no pórtico inteiro.
Alguns afrescos do Sebasteion, no museu


Era no Bouleiterion que os patrícios se reuniam para discutir os problemas da cidade, ouvir os filósofos, os poetas e cantores.
A acústica era perfeita, pudemos ouvir as instruções do guia francês que acompanhava um grupo, falando baixo e confortável, a uma boa distância do orador. Foi muito aplaudido no final da explicação.




Bouleiterion


 No museu, está também, a estátua da deusa, que ficava encerrada no sanctum do templo, sendo vista apenas pelos sacerdotes do templo. Os bizantinos quebraram seu rosto, com medo do seu olhar. Assim, depois fizeram os otomanos, com os ícones bizantinos. Cada povo, com a sua religião intolerante, destrói o que o povo anterior deixou de belo. Como os talibãs destruíram aqueles budas, no Afganistão.
A intolerância deixa suas marcas ao longo das civilizações.


Afrodite, sem face.

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