terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Selçuk


Catedral de São João, antes templo, depois, mesquita, hoje museu. Não o visitamos.


Esta é a cidade atual, onde se encontrava a cidade de Ephesus (Éfeso), onde havia o templo de Diana, que era uma das Sete Maravilhas (hoje só sobrou uma coluna), onde as cegonhas fazem seus ninhos na primavera, onde os corvos fazem revoada todas as tardes e muita algazarra, onde há uma corrida de camelos, no inverno, onde estão construindo um novo museu para abrigar as peças antigas encontradas em Éfeso, pois no antigo não cabia mais.
Apesar de tudo isso, a cidade de Selçuk (diga, Seltchuk), só ganha alguma coisa das visitações à casa de Nossa Senhora, Meryemana Evi (casa de mãe Maria, em turco). Sim, pois os turistas raramente hospedam-se lá. Vem de outros lugares, chegam de manhã, tumultuam a cidade, não compram nada, fuçam e perguntam tudo, visitam as belezas e vão embora, no fim da tarde. A visitação a Ephesus, ao museu, a Pergama é paga, mas o dinheiro fica para a República administrar as escavações e manutenção do museu e a cidade de Selçuk não é beneficiada. Todos os hoteleiros e lojistas falam o mesmo discurso.
Hotéis recebem bem, não são caros, os restaurantes são bons, a loja que vende lokum  é uma das melhores (pelo menos a melhor que conheci) e desta vez, calhamos de estar na feira do sábado. Puxa, que festa para os olhos!
uvas e marmelos
Vendo esta fartura, podemos entender por que a Ásia Menor sempre foi alvo de guerras e necessitava de defesa de território, foi submetida a tantas invasões e passou por tantos reinos.
A fertilidade do solo é impressionante, solo de cinza vulcânica, em sua base, o esterco dos animais de criação, o composto das socas das culturas, que também serve de forragem para os animais, a cultura cooperativa, uma zona rural sem cercas, é o que se vê, na Turquia. E a região de Izmir (a antiga Esmirna, cidade vizinha), é a prova. Ephesus foi a maior cidade da Ásia Menor, tendo uma população média flutuante entre 35 e 50 mil habitantes, no seu auge, no Império Romano, há registro de 250 mil pessoas habitando a "Grande Ephesus".
Além da fertilidade na agricultura, a região é abençoada por águas frescas, o litoral manso uma fartura na criação de animais, também. O símbolo da região de Denizli é o galo (são lindos) e Izmir é a cabra.
Passear pela feira, claro que compramos algumas coisinhas para comer, sendo que, na verdade, eu queria era morar um pouco por lá...
E queria um quintalzinho onde pudesse plantar. A graça de ter um clima tão bom, uma paisagem tão bela, um solo tão fértil, uma alimentação tão saudável, por tantos milênios de civilização, fez da atual Turquia um dos lugares mais disputados do planeta. E fez sua riqueza maior, também, a longa história da humanidade, que foi escrita com sangue, através das milhares de guerras.
A bandeira da Turquia é vermelha com uma lua e uma estrela. Diz a lenda que representa uma poça de sangue refletindo a lua e Júpiter, no céu.
berinjelas, pimentas doces, milho

salada
Depois do almoço, então, tomamos uma lotação até Meryemana. Fomos atender o pedido de um rapaz, e já fizemos uma lista enorme de outros pedidos em nome de muitas pessoas, tentando não esquecer do nome de ninguém.
Em Meryemana, tinha muitos turistas, ao contrário da vez primeira em que fomos visitar a Mãe.
Entrar em Sua casa é uma emoção indizível. Recebe-nos tão bem, acolhe-nos a todos com o mesmo amor e sabedoria.
Até o Les, tão frio e descrente, foi com dor de cabeça e ficou curado. Admitindo isso!


Meryemana, infelizmente estava lotada de pessoas, inclusive algumas meio passando dos limites, mas apesar do pouco espaço da capela, havia um lugar para todos na casa de Maria.
Esta casinha, onde supostamente ascendeu aos céus, tem certamente uma presença. Uma presença tão boa e generosa, tão afetuosa, que a vontade que se tem é de ficar lá, e no feriado do Bayram, Sua casinha lotou de gente islâmica, orando e reverenciando a Mãe Maria.
Muitos muçulmanos respeitam, vem de longe para adorar Santa Maria, fazer suas preces e pedidos no seu muro da fé.
cores e cores

Tudo arrumadinho e limpo: sem sujeira no chão
Foi visitada por muitos papas, principalmente João XXIII, antes de ser papa e depois.
O local foi considerado sagrado por Paulo VI.
é uma peregrinação católica, mas que gente de todas as religiões deveria conhecer, se tiver oportunidade, pois há um contato íntimo com o Amor de Maria.
É o que você sente lá dentro. Uma energia que irradia e é o seu princípio feminino.
Ainda queremos retornar a Selçuk, há muito que conhecer no lugar, há uma citadela onde nunca fomos, há Pergama, por perto, queremos ver o museu novo (o velho era lindo! pena que era proibido fotografar, lá dentro, mas figuras como Sócrates, que era efésio, algumas esculturas lindíssimas (o primeiro Júpiter com nariz que eu vi na vida, foi lá - os bizantinos faziam questão de quebrar o nariz dele) e principalmente a deusa Ártemis, do Templo de Diana de Ephesus, com suas mil tetas.
Também de uma força incomensurável esta imagem. Também a força do princípio feminino. Mas de uma forma mais dura que Maria, branda, doce e serena.
Banca do absoluto delírio
A escultura de Diana, com "tetinhas" inúmeras, é o culto primitivo da deusa grega, que recebia como oferenda os testículos dos eunucos, que se consagravam à sua  tutela. Imagino esse templo, a maravilha do mundo antigo, o cheiro que devia ter!!! Acredito que não gostaria de viver no hotel onde ficamos, pois ficava a uns 500m da coluna restante do que foi um dia, o templo de Diana.
Uma coisa meio chocante aconteceu: estávamos visitando a mesquita, logo em frente ao hotel, quando um turista dinamarquês, bem loirinho e bonito, arrancou suas calças mostrando um bumbum bem bonito, na porta da mesquita. Seus companheiros de turma (claro que não estava sozinho, se estivesse, jamais ousaria) falaram isso, aquilo, lá na língua deles, mas acabaram rindo.
Será que ele ficou tão influenciado pela mídia que fala tão mal do islamismo? Será que não entendeu que não é a religião que é terrorista, mas que os terroristas é que usam o nome de Allah para fazer suas ações? Será que estava mesmo protestando? Ou será que faltou uns tapas naquela bundinha cor-de-rosa, quando ele era pequeno? Fica a pergunta no ar.
Mesquita de Selçuk
Em Selçuk o  artesanato é forte. Vimos muitas coisas lindas e de preço bem legal. A culinária, também, é muito boa. mas bom mesmo é o astral daquela cidade tão linda. Queremos voltar.



2 comentários:

  1. Que beleza que deve ser ver tanta fartura em uma cidade palco de tanta guerra!!! E a casinha de Maria, que lindo deve ser poder entrar lá e sentir-se inundado pelo amor desta maravilhosa mãe!!! Quando li sua narrativa sobre o templo da deusa Diana fiquei imaginando os eunucos com seus gritos de dores tendo seus órgãos retirados do corpo!!! Senti até calafrio e olha que sou mulher, rsrs!!! Quanto ao turista, pena que ele não consiga compreender as culturas dos povos diferentes às suas!!! Um desrespeito, creio eu, porém, é fato comum entre muitos que não consigam compreender o que não é de seu costume. Mas voltando às frutas, que belezura né!!! E observei que há muitas delas comuns aqui no Brasil, como as mangas e bananas. Lindas, sua viagem, sua narrativa e os detalhes na descrição desta viagem inesquecível!!!!

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