terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Kayaköy - tradução e pitacos

A capela parece estar chorando
Em uma visita anterior ao oeste da Turquia, eu sempre notava as igrejas abandonadas, casas abandonadas em cidades e vilas da Capadócia, ou Eğirdir, na região dos lagos, e a questão dessas comunidades me assombra desde então...O que aconteceu a essas pessoas? O que sentiram ao terem que deixar suas casas,  na troca de populações, nos anos 20s? Também fiquei fascinado ao ler o livro de Louis de Bernières, Pássaros sem Asas, há alguns anos atrás. O cenário de seu livro é a região de Fethiye, na antiga Termessos.
Bem no fim da narrativa, ele anda pelo centro da cidade pensando no que o turismo fez, mas é inquietante quando diz: " A coisa mais inquietante e digna de nota, em Fethiye, na feira livre e na região da Lícia, é que não há gregos".
Foto retirada da net (Google)


O livro de Bernières é baseado na cidade Kayaköy, a 8km de Fethiye. Para chegar lá, você passa por Hisrönü, a terra do English Breakfast e do Fish and Chips e depois de um quilômetro, o ônibus lhe deixa na "vila grega", de Kayaköy, exceto que, é claro, como de Bernières nos contou, que não há mais gregos. A cidadezinha ou o que resta dela espalha-se a partir da estrada, pela encosta da montanha. Hoje suas ruínas passam um sentimento austero e melancólico, como todas cidades abandonadas, mas vou deixar Louis de Bernières descrevê-la.
Foto retirada da net
"Suas ruas eram tão estreitas, mais como becos, mas sem o sentimento opressor de fechado, porque os edifícios estão na encosta de um vale, de tal forma que cada rua recebia luz e ar........... provavelmente não haja lugar como aquele..... cada habitação tem o andar de baixo escavado na rocha. Estes andares térreos eram abençoados pelo frescor, no verão e no inverno, eram normalmente ocupados pelos animais, cujo calor natural aliviava o frio do andar superior, cujo acesso era através de uma escada de madeira ou degraus cortados na rocha."
Os caminhos, não dá para chamar de ruas, serpenteiam montanha acima e de tempos em tempos, quebram-se em grandiosas vistas do mar, através do vale. Duas igrejas sobrevivem, a mais no alto, foi fechada por perigo de desmoronamento, a mais em baixo, também em mau estado de conservação.
Kayaköy sofreu de novo, nos anos 50s, quando terremotos destruíram os telhados e o governo consentiu que a população aproveitasse o madeirame utilizável. Circulam rumores de reconstrução pelo governo ou com capital privado, mas estas ideias provavelmente darão em nada. Quem gostaria de retornar para esta cidade fantasma onde os carros não podem trafegar, com suas curvas e trilhas em precipícios, quando os cavalos e mulas que escalaram suas encostas quase desapareceram...
Kayaköy e outras cidades cristãs, no oeste da Turquia, porque cristão e grego são sinônimos, na mente turca, foram desertados e abandonados à sua sorte, com mais de um milhão indo para a Grécia e a metade deste número, de turcos que habitavam na Grécia, chegando na Anatólia. O desespero foi devastador.
A Turquia moderna tem achado difícil aceitar o velho ideal otomano de igualdade para as minorias. A triste Kayaköy permanece como monumento a esta falha.

PS. Não tirei muitas fotos de Kayaköy, estava ocupada chorando... (eu também li o livro!)- Ane*
Foto retirada da net



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