domingo, 15 de dezembro de 2013

Patara, tradução e mais coisinhas.

Portal da cidade de Patara - nesses escrínios, havia estátuas.

É uma das maiores praias do Mediterrâneo, quase 20 km de areia grossa e mar aberto e batido e ventos constantes que esculpem as rochas calcárias em formas fantásticas. Esta é a praia de Patara, mas não há um hotel à vista, porque atrás da praia, está a cidade romana de Patara, outrora um porto de grande importância e capital da Lícia. Espalha-se sobre uns dez quilômetros quadrados e perdeu algo de sua magnificência, pois o rio em que os navios chegavam ao cais, assoreou e mudou de direção, deixando a cidade no meio de lagoas salgadas. Mas as ruínas sublinham a importância desta cidade tão romana. Grandes balneários, um anfiteatro, como o de Éfeso, encravado na encosta da colina e um bouleiterion e uma ágora recentemente restaurados (com verba de particulares), fazem Patara impressionante.
Teatro
O imperador Adriano passou por Patara no ano 131 AD, em seu caminho para a Judeia e um grande celeiro foi construído em sua homenagem, ou sob suas ordens. Relendo Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, fica claro como o investimento, junto com a Pax, eram suas maneiras de consolidar o Império. O celeiro também mostra a importância do porto no comércio de grãos, com o Egito. Na nossa segunda visita, fui ver, ao leste, o tanque cavernoso, construído para captar a água da cidade. Vinte quilômetros de canos de pedra e cerâmica, traziam água fresca e limpa para a cidade e era redistribuída a partir desse tanque, que diminuía a pressão. É um estonteante feito de engenharia, mesmo sendo construído por mãos escravas.
Atrás da cidade romana, há a pequena vila de Gelemis, que alimenta os turistas. É um lugar sonolento, a não ser no verão, onde eu até vi um gato dormindo recostado na barriga de um enorme cachorro. Ninguém contou a eles que são inimigos naturais. Grandes restaurantes abertos, com seus fornos a lenha onde as mulheres cozinheiras deixam de lado sua timidez natural e convidam aos passantes que experimentem suas panquecas (gösleme) e pizzas (pide).
À noite, as praias se esvaziam e deixam suas areias para as tartarugas. A área é um grande parque natural, mas se você pega a estrada até a entrada das ruínas, a lua ilumina um edifício caído e uma coluna quebrada e eu imagino o som de risadas e de água caindo, vindo das termas. Patara, a cidade das cidades.
Restauração da casa do senado, ágora e bouleiterion, com as pedras originais, trazidas de uma pedreira distante.
Esta tradução e todas as fotos foram feitas por Ane.

Agora minhas impressões sobre Patara.
Muito e muito antes dos romanos tomarem Patara, esta cidade fora visitada por Alexandre, o Grande, no século III, antes de Cristo. E muito antes ainda, fora capital da Lícia, onde Belerofonte foi acolhido pelo rei Iobates e onde a Chimaera fazia suas vítimas. Belerofonte era filho de Pósidon e Eurimeideia. Matou um tirano de Corinto, seu irmão Beleros e teve que fugir para Tirinto, onde o rei, Preto o purificou. Anteia, a mulher de Preto, se apaixonou por Belerofonte e ele se recusou a ficar com ela, então ela foi contar ao rei Preto, que ele havia tentado seduzí-la. Preto, então enviou Belerofonte para Iobates, seu sogro, com ordem de que o matasse. Iobates não quis matar um hóspede, então pediu que destruísse a Chimaera, que devastava o país, destruindo o gado. Atena revelou ao herói que somente cavalgando o Pegasus, ele conseguiria destruir o monstro. O resto da história já conhecemos.
Basílica bizantina, com sarcófagos ao fundo
Desde esta época, há milênios AC, Patara existe. Os romanos e os bizantinos vieram bem depois.  A cidade manteve sua ocupação até a chegada dos otomanos, no século XV AD.
A maior produção da região é a azeitona. Em todo lugar que se olha, se vê uma oliveira, ou muitas. As estufas também, estão perto das ruínas e em qualquer fresta entre duas pedras, cresce alguma coisinha, um pé de beringela ou pimentão, uma aboboreira ou pé de tomate que ninguém plantou. Loureiros e figueiras, pereiras e marmeleiros fazem parte do lindo pomar onde as romãs predominam. As uvas de Patara são famosas, bem como o gado miúdo. Sim, alguns carneiros e bodes foram selecionados para serem sacrificados no Bayram, a festa do final do Ramazan. Fotografei alguns dos expiatórios, um animal mais belo que o outro. Afinal, as oferendas devem ser perfeitas. E o costume existe - literalmente - desde que o mundo é mundo. E é claro, os bichos não gostam nada disso e se defendem como podem. Fogem, coiceiam, cabeceiam, dão marradas, mordem, ameaçam, e sempre perdem, porém fazem um escândalo. Isso acaba deixando o festival do Bayran um pouco mais engraçado. Eu torço pelos bichos, é claro e fotografei alguns magníficos.
Este caprino já era!



 Estava um sol imenso e um calor abrasante. Suávamos e apesar de termos saído bem cedinho, depois de termos andado por Patara, fazia muito calor. Encontramos uma lojinha que tinha um freezer com muitas garrafas de água e um pequeno oásis!
Sim, uma senhora vendendo frutas e saquinhos de sálvia selvagem, coletada nas ruínas.
Paramos um pouco para nos refrescar.
Ficamos sentados à sombra de uma alcarobeira e degustamos uvas frescas. Depois a senhorinha apareceu com uma  bela romã, partiu para vermos como se faz, e traçamos aquela fruta cor de vinho nos lambuzando muito.
Estas calças shalwar são uma delícia.
Fazendo força para cortar a casca da romã
Não foi a primeira nem a última vez que conversei com um (a) turco (a), falando em português e a pessoa respondendo em turco. Línguas humanas. O que é necessário, a gente entende. E muito bem!
Furtivamente eu a fotografei bem de pertinho, enquanto, toda compenetrada, nos ensinava a comer romã (gigante).












Em Patara, atrás das termas romanas, há um tufo enorme de palmeiras. Este é um dos dois locais no mundo onde pode ter nascido o deus Apolo. Sim, reza a lenda que Leto, a mãe de Ártemis e Apolo, deuses asiáticos, sofria as dores do parto e procurou em vão, um lugar para pousar. Ática, Eubeia, Trácia, ilhas do Mar Egeu, mas temendo a cólera de Hera (ciumenta de Zeus, o pai dos gêmeos), ninguém lhe hospedava. Apenas Astéria, sua irmã, lhe deu abrigo na ilha Ortígia, que era flutuante, não fazendo parte da terra. Leto pariu agarrada à única árvore da ilha, uma palmeira, que desde o nascimento de Apolo, transformou-se numa linda touceira de palmas. Diz também, a história, que a ilha Ortígia derivou e eventualmente encalhou no rio de Patara. E lá está a linda touceira de palmas, para provar que Apolo existe.
Apolo nasceu aqui.
(entre dois açucareiros...)

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