quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Xanthos


Tumba lícia
Por que este nome? porque o rio que passa em Xanthos, tem o solo amarelado, fazendo-o ficar amarelo, xanthos, em grego. Esta cidade também é bem antiga, como todas da Anatólia.
Muitas vezes, quando estamos viajando, por sermos totalmente ignorantes do que nos cerca, perdemos muitas oportunidades, trocamos a ordem das coisas, marcamos bobeira. É muita informação!
Em Xanthos, parece que isso aconteceu. Tomamos a condução para a cidade de Kınık, terra da azeitona e do azeite, e ao lado da entrada da cidade, já é Xanthos. Só que não sabíamos que há, no vale abaixo, a uns 2 km de lá, o templo de Leto, o Letoon, que deixamos de ver. Isto porque a cidade antiga e a nova se interpenetram, sem sabermos ao certo onde uma começa e a outra termina.
Além disso, que calor! Chegamos em Xanthos às dez da manhã e o sol já estava fritando. Durante a visitação bateu meio dia e sem a perspectiva de uma praia ou algo para refrescar, além da pouca sombra dos arbustos.
Trocamos a ordem, deveríamos ter ido a um cânion que tem por lá, fresquinho e agradável, perto do mar, ao meio-dia e, na volta, irmos a Xanthos, com o sol baixando. Mas tem dia que não é o dia...
Mosaico da catedral bizantina

Em Xanthos me sentia ameaçada, passava depressa pelos corredores mais estreitos, como se algo fosse me atacar, o sol a pino afastou os turistas, tinha muito pouca gente e o ônibus que chegou era fretado com turistas franceses, já com guia; dirigiram-se exatamente para o local de onde estávamos saindo, portanto não os encontramos mais. Andamos por ruas e cantos retirados da cidade, necrópole, outro teatro, ainda maior, colunas e muros cobertos por moitas, algo como uma grande tristeza indecifrável, um não sei quê que me dava vontade de chorar...
Estela trilingue: hitita, lício e grego, uma em cada face
Esperei ser conduzida de volta, já feliz ante a perspectiva de passar a tarde na praia de Patara, comendo lulas e tomando cervejinha, ao vento abrasivo, que faz com que a areia penetre em todo lugar. Esfoliante!
Tirei fotos do que era lindo, mas tinha o que estava coberto, como os lindos mosaicos da basílica bizantina, que não podem ficar expostos às intempéries; o que foi saqueado, como os afrescos do túmulo e muitos outros objetos, que se encontram no Museu Britânico, e o que deixei de ver.
Entendi mais, ao ler os folhetos sobre Xanthos. Era uma cidade lícia importante e tem algumas estelas e inscrições em grego, hitita e lício, o que fez com que se entendesse a língua lícia, e a língua hitita, com maior facilidade, e também informações sobre comércio, política e conquistas do período anterior a o primeiro milênio antes de Cristo.
Xanthos também foi importante centro cultural para os povos da Lícia, primeiramente, mas depois para os persas, gregos e romanos. Estudantes afloravam de todas as partes, até a queda do Império Bizantino, no século XV, quando os otomanos abandonaram a cidade velha. E porque os sultãos não estavam muito interessados, as ruínas de cidades antigas ficaram livres para serem saqueadas, por quem ousasse empreender o saque! Muitas peças de museu foram devolvidas, mas nada do que foi transportado para a Inglaterra veio de volta...
Túmulo de Payava  - afrescos replicados do Museu Britânico
Como os afrescos originais do túmulo de Payava. Herodoto e Apianos, ambos descrevem a conquista da cidade, por Harpagus, a mandado do Império Persa, em 540 AC. Harpagus venceu os exércitos lícios e a população de Xanthos se refugiou no centro da cidade. Os lícios, então destruíram sua acrópole, mataram suas esposas, filhos e escravos e fizeram um ataque suicida aos persas, a quem não queriam se submeter. Somente escaparam 80 famílias que não se encontravam na cidade. A partir deles e dos persas que dominaram Xanthos, a cidade foi reconstruída.
Mas foi destruída entre 475 e 470AC, nas guerras greco-pérsicas. No final do mesmo século, a cidade foi reconstruída. Entregaram-se voluntariamente a Alexandre teve um governo macedônio, mesmo depois da morte de Alexandre.
Foi a cidade conquistada pelos romanos, em 42 AC, por Brutus, e os Xanthios não gostaram nada e então repetiram o suicídio coletivo!!!
Não foi por menos que me sentia tão estranha naquela cidade...
Mas agora, estou preparada. Se algum dia eu voltar àquela região, vou fazer esta visitação mais detalhadamente.
Há maneiras e maneiras de nos tornarmos eternos, os Xanthios tiveram a sua forma de me impressionar, mesmo depois de tanto tempo.
Xanthos. Mais uma cidade eterna. 



Tudo se amontoa no cenário.
O cenáculo se ancestraliza.
Buscaremos a eternidade 
até que a vida nos pareça
grande demais para ser eterna.

(Eros - Pça da República, 1967)

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